Um cometa interestelar SWAN foi literalmente chicoteado por uma rajada de vento solar na última semana, quase perdendo sua cauda diante do intenso plasma emitido pelo Sol. O fenômeno, observado por astrônomos ao redor do globo, marca uma das interações mais raras já registradas entre nossa estrela e um visitante vindo de outro sistema estelar. O encontro aconteceu enquanto o corpo celeste se aproximava do ponto mais próximo ao Sol, programado para outubro de 2025. Acompanhando o cometa, o outro visitante interstellar, 3I/ATLAS, segue trajetória similar, despertando curiosidade e expectativa na comunidade científica.
Contexto da descoberta dos objetos interestelares
Desde que Jonathan McDowell, astrônomo do Harvard‑Smithsonian Center for Astrophysics explicou que o cometa parece feito de gelo ao invés de rocha, sabemos que o Universo está nos enviando relíquias de sistemas planetários distantes. O primeiro objeto interestelar detectado, ‘Oumuamua, apareceu em 2017, seguido por 2I/Borisov em 2019. Agora, duas novas chegadas – C/2025 R2 SWAN e 3I/ATLAS – ampliam o pequeno catálogo de visitantes externos.
O descobrimento de 3I/ATLASChile ocorreu em 1º de julho, graças à vigilância do telescópio ATLAS instalado nas fábricas de observação do país sul‑americano. Poucos dias depois, o cometa SWAN foi identificado por outro conjunto de instrumentos, provando que o nosso Sistema Solar está passando por um período incomum de ‘chamadas cósmicas’.
Detalhes da interação do cometa SWAN com o vento solar
Quando o Sol solta um sopro de partículas carregadas – o vento solar – ele pode gerar o que chamamos de vento ou plasma. Na última semana, o SWAN recebeu uma dose surpreendente desse fluxo, quase arrancando sua cauda luminosa. Richard Moissl, chefe da defesa planetária da Agência Espacial Europeia (ESA), tranquilizou o público ao afirmar que não há risco de colisão com a Terra.
O astrofísico Javier Licandro, pesquisador do Instituto de Astrofísica de Canarias, estimou que o cometa mede entre 20 e 30 quilômetros de diâmetro. "É um gigante gelado que nos oferece uma chance única de estudar material primitivo de outra estrela", comentou Licandro, acrescentando que a trajetória indica um afastamento da Terra equivalente à distância de Marte nos próximos meses.
Observações e campanhas globais
Até agora, cerca de 20 observatórios distribuídos pelos cinco continentes mobilizaram suas redes para rastrear esses objetos. Entre eles, o Vera Rubin Observatory, recém‑inaugurado no Chile, está programado para escanear o céu noturno com a frequência necessária para detectar mudanças sutis nas órbitas. A coleta de dados ocorre em tempo real, permitindo ajustes rápidos nas previsões orbitais.
A equipe de astrônomos internacionais está trabalhando em um modelo conjunto que combina imagens ópticas, infravermelhas e espectroscópicas. "Quando juntamos tudo, conseguimos inferir a composição química dos cometas, algo que antes era impossível sem uma missão de interceptação", explicou um cientista da colaboração.

Planos da ESA e futuras missões de intercepção
A ESA já delineou um projeto ambicioso: lançar, nos próximos anos, uma sonda capaz de alcançar um desses visitantes interestelares antes que ele se afaste para o espaço profundo. O objetivo seria coletar amostras diretamente da superfície de um corpo externo, algo que, se realizado, marcaria o primeiro contato físico da humanidade com material de outro sistema estelar.
O desafio técnico é enorme. A velocidade relativa dos objetos pode superar 30 km/s, exigindo propulsão avançada e arquiteturas de navegação precisas. Contudo, o sucesso poderia responder perguntas que há décadas fascinavam cientistas: Como se formam planetas em outras galáxias? Qual a diversidade química dos sistemas estelares?
Implicações para a astrofísica e para o futuro da exploração espacial
Esses visitantes oferecem uma janela direta para o que ocorre além da nossa vizinhança cósmica. A diferença nas trajetórias – um vindo da constelação de Sagitário, próximo ao centro da Via Láctea, e outro de Aquário, na direção da borda externa da galáxia – sugere que objetos interstellares podem ser lançados por diversos processos, desde perturbações gravitacionais até explosões de supernovas.
Além disso, a observação simultânea dos dois corpos em outubro de 2025 criará um caso de estudo sem precedentes sobre como o plasma solar interage com materiais diferentes. "Podemos comparar a resposta de um cometa gelado versus um asteroide rochoso, tudo sob o mesmo fluxo solar", disse Licandro, enfatizando que essas comparações podem refinar nossos modelos climáticos solares.
A descoberta também reforça a importância de redes de telescópios de varredura ampla, como o ATLAS e o Vera Rubin Observatory, que funcionam como sentinelas do céu aberto. Com novas tecnologias, a expectativa é que mais objetos sejam detectados, ampliando o catálogo e possibilitando missões de estudo mais detalhadas.
Frequently Asked Questions
Qual é o risco de colisão do cometa SWAN com a Terra?
Segundo Richard Moissl da ESA, a trajetória do cometa indica que ele passará a uma distância segura, similar à de Marte, sem risco de impacto direto. Os cálculos orbitais são continuamente atualizados por observatórios globais.
Por que o vento solar pode arrancar a cauda de um cometa?
O vento solar é composto por partículas carregadas que, ao colidirem com o gelo e poeira de um cometa, podem gerar pressão suficiente para soprar a superfície e deslocar a cauda. Quando a atividade solar aumenta, como ocorreu na última semana, o efeito se intensifica, quase removendo a cauda do SWAN.
Como a ESA pretende interceptar um objeto interestelar?
A proposta envolve lançar uma sonda com propulsão elétrica avançada e sistemas de navegação autônoma que permitam ajustar a trajetória em tempo real. O objetivo seria chegar ao objeto antes que ele deixe o Sistema Solar, coletar amostras de sua superfície e transmitir os dados de volta à Terra.
O que os cientistas esperam aprender com esses cometas?
Além da composição química (gelo, gases voláteis e minerais), eles podem revelar como planetas se formam em diferentes ambientes galácticos. Comparar um cometa vindo do centro da Via Láctea com outro da borda externa ajuda a mapear a diversidade de processos de formação estelar.
Quantos observatórios estão monitorando os objetos?
Cerca de 20 observatórios espalhados por quatro continentes, incluindo instalações no Chile, Estados Unidos, Espanha e Austrália, estão coordenando medições ópticas e espectrais para refinar as órbitas dos cometas e preparar possíveis missões de intercepção.