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Documentário revela a vida da primeira geração nativa digital

Documentário revela a vida da primeira geração nativa digital
26 setembro 2025 0 Comentários Gustavo Campos

Um experimento social dentro da sala de aula

Quando a equipe de produção resolveu filmar documentário em duas escolas de Los Angeles, o objetivo era direto: colocar câmeras, microfones e, principalmente, smartphones nas mãos de adolescentes que já nasceram com a internet correndo nas veias. Diferente de reality shows que buscam drama artificial, a proposta era mais íntima – os jovens concordaram em compartilhar tudo, desde mensagens de grupo no WhatsApp até os vídeos que postam no TikTok. O resultado é uma cronologia aberta, dia após dia, do que significa ser “nativo digital” em um mundo que, ainda que ainda em fase de adaptação, já tem a tecnologia como primeira linguagem.

O período de filmagem coincidiu com o retorno às aulas presenciais depois da pandemia. Em 2021‑2022, as escolas ainda carregavam o peso das aulas híbridas, e os jovens, ao mesmo tempo, reforçavam laços virtuais que se tornaram essenciais para a sobrevivência social. Essa dualidade – o corredor da escola ao lado da tela do celular – cria um pano de fundo rico para analisar como a pandemia acelerou a integração digital na adolescência.

Temas que surgem sem filtro

Temas que surgem sem filtro

A série coloca na mesa questões que costumam ficar nos bastidores das conversas familiares. Entre elas, o cyberbullying surge como um fantasma constante; notificações de mensagens de ódio ou de exclusão aparecem no feed dos jovens como parte do cotidiano. Um dos adolescentes, de 17 anos, descreve a sensação ao receber um comentário “tóxico” depois de postar um vídeo de dança no TikTok: "É como se o mundo inteiro me julgasse num segundo, e você não tem como fugir, porque a tela está sempre lá".

Outros tópicos são igualmente impactantes: os padrões de beleza impostos por filtros e retoques, a pressão constante de se comparar com vidas aparentemente perfeitas e o peso de decisões que, antes de ser uma escolha adulta, já afetam a identidade dos jovens. A série aborda ainda episódios de racismo digital, onde algoritmos e tendências virais reforçam estereótipos, bem como a descoberta da própria sexualidade num ambiente onde o “like” pode ser tanto aceitação quanto exposição indesejada.

Para organizar esses temas, a produção usa recursos narrativos que incluem:

  • Entrevistas individuais gravadas em ambientes íntimos, como quartos decorados com pôsteres de ídolos da internet.
  • Momentos de grupo, onde as dinâmicas de amizade são mostradas em salas de aula, corredores e, claro, nos chats de grupo.
  • Sequências de tela que revelam a realidade por trás dos stories: mensagens que nunca seriam postadas, mas que contam muito sobre inseguranças e desejos.

Ao destacar as plataformas TikTok, Instagram e Snapchat, a série demonstra como cada app cumpre um papel diferente na vida dos adolescentes. O TikTok, por exemplo, funciona como palco de performance, onde a criatividade e a necessidade de viralizar se cruzam. O Instagram ainda carrega a antiga lógica de curadoria estética, e o Snapchat se tornou o espaço de mensagens efêmeras, quase como um diário que desaparece logo depois de lido.

A produção não se limita a apontar problemas; ela também mostra estratégias de resistência. Grupos de apoio surgem dentro das escolas, professores iniciam debates sobre o uso saudável das redes e pais aprendem a dialogar com seus filhos sobre limites digitais. Em um episódio, um professor de sociologia propõe um exercício de “detox digital” durante uma semana, gerando reações variadas: alguns estudantes sentem alívio, enquanto outros descrevem ansiedade ao ficar sem notificações.

O impacto da série vai além da tela. Educadores têm utilizado trechos como material didático em aulas de ética e cidadania digital. Políticos e órgãos governamentais, ao assistirem ao conteúdo, começaram a considerar regulamentações mais claras sobre a privacidade de menores nas plataformas. E, claro, pais que assistem ao programa relatam mudança de postura ao perceberem que seus filhos não são apenas “vítimas” da tecnologia, mas também agentes ativos que moldam seu próprio espaço virtual.

Um ponto de atenção constante na série são os avisos de conteúdo sensível. Sequências com luzes piscantes foram sinalizadas para evitar crises em pessoas fotosensíveis, refletindo o cuidado da produção em não reproduzir o próprio perigo que alguns formatos de mídia podem gerar.

Em suma, o documentário funciona como um espelho que reflete não apenas o jeito que adolescentes se relacionam com os aparelhos, mas também como a sociedade precisa repensar o conceito de infância e adolescência na era digital. Cada episódio abre portas para conversas necessárias, reforçando que, embora a tecnologia seja inevitável, o modo como a utilizamos ainda está em construção.