Na segunda-feira, 8 de dezembro de 2025, Thiego Raimundo de Oliveira Santos, conhecido como TH Joias, deixou a Penitenciária de Bangu 1 rumo à sede da Polícia Federal no Rio de Janeiro. A transferência, autorizada pelo desembargador Macário Ramos Júdice Neto, da 1ª Seção Especializada do Tribunal Regional Federal da 2ª Região (TRF2), não é apenas um deslocamento físico — é um sinal claro de que as investigações sobre a conexão entre política e crime organizado no Rio de Janeiro entraram numa nova e mais perigosa fase.
Da joalheria ao poder: a ascensão de um homem entre dois mundos
Antes de ser deputado estadual pelo MDB, TH Joias era um joalheiro de sucesso na Barra da Tijuca. Fabricava peças de ouro cravejadas de diamantes para jogadores de futebol, artistas e empresários. Sua reputação de bom negócio e discrição o levou a círculos de poder. Em 2022, foi eleito com quase 37 mil votos. Mas, segundo a Polícia Federal, ele usou o mandato como ponte entre o Comando Vermelho e o poder público fluminense. Não era só corrupção — era sistema. Ele alertava a facção sobre operações policiais, garantia proteção a líderes e até ajudava a negociar contratos públicos em troca de dinheiro sujo.Operação Zargun: o fim da fachada
Em 3 de setembro de 2025, a Operação Zargun desmontou essa estrutura. A PF e o Ministério Público do Rio de Janeiro (MPRJ) invadiram seu condomínio de luxo, levando-o preso. No mesmo dia, foi cassado da Alerj. Foram 10 acusações: organização criminosa, tráfico interestadual de armas e drogas, corrupção ativa, lavagem de dinheiro, contrabando, exploração clandestina de telecomunicações, evasão de divisas, violação de sigilo e dois crimes de obstrução à justiça. A quebra de sigilo telefônico revelou conversas em que ele discutia nomes de candidatos a serem apoiados pela facção — e até a compra de drones para ataques a policiais.O intermediário: 'Índio do Lixão' e o poder nas favelas
Por trás de tudo estava Gabriel Dias de Oliveira, o 'Índio do Lixão', de 38 anos, morador da favela de Duque de Caxias. Ele era o elo. O homem que levava dinheiro da facção para TH Joias e, em troca, garantia que políticos não mexessem nas rotas de tráfico ou nas vendas de drogas. A PF descobriu que os dois planejavam lançar 'Índio do Lixão' como candidato a vereador — um passo lógico: transformar o poder das favelas em poder eleitoral. Em 5 de dezembro, ele foi transferido da Penitenciária Federal de Mossoró para Bangu 1, em um movimento que só fez aumentar as suspeitas de que novas provas estavam sendo reunidas. Era mais do que coincidência. Era estratégia.
O assessor que vendia drones: 'Dudu' e a tecnologia do crime
Enquanto isso, Luiz Eduardo Cunha Gonçalves, o 'Dudu', ex-assessor de TH Joias, foi preso na mesma operação. Ele não era só um funcionário público. Era um operador. Investigado por vender aparelhos antidrones a facções criminosas — e por negociar a compra de drones para atacar policiais e rivais. A PF encontrou registros de transações com integrantes do Terceiro Comando Puro. E pior: 'Dudu' teria articulado a nomeação de Fernanda Ferreira Castro, esposa de TH Joias, para um cargo na Alerj. Um cargo sem função, mas com salário e acesso. Um símbolo de como o dinheiro do crime se infiltrava no Estado.Por que a transferência agora?
A prisão de Rodrigo Barcellar, presidente da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj), em 4 de dezembro de 2025, foi o gatilho. Barcellar, até então considerado um político tradicional, foi flagrado em conversas com pessoas ligadas ao Comando Vermelho. A Justiça entendeu: se TH Joias era o elo entre a facção e o legislativo, agora havia um novo nome no topo da cadeia. A transferência para a sede da PF não é só para interrogatório — é para confrontar provas. Para ver se TH Joias vai apontar nomes. Se vai falar sobre reuniões em gabinetes, sobre repasses de dinheiro, sobre promessas feitas em troca de proteção.Isso tudo acontece em um momento delicado. O Rio de Janeiro vive um recrudescimento da violência, e a população já não acredita mais em discursos vazios. Quando um ex-deputado, que prometia desenvolvimento, é descoberto como um negociador de armas e drones para facções, a desconfiança vira indignação. E quando a própria presidência da Alerj é envolvida, o sistema perde a última máscara.
As próximas peças no tabuleiro
As 17 pessoas indiciadas na Operação Zargun ainda não foram todas julgadas. Mas já se sabe que o esquema era maior do que se imaginava. A PF está analisando mais de 120 contas bancárias, 47 celulares e 800 horas de gravações. Ainda há suspeitas de que outros deputados estaduais receberam recursos ilícitos. E o Ministério Público já pediu a abertura de inquérito para investigar contratos de segurança pública assinados entre 2023 e 2025.Se TH Joias confessar, pode ser que o sistema de corrupção que envolve políticos, facções e empresas de tecnologia seja desmontado de vez. Mas se ele se calar, o que vemos hoje é só a ponta de um iceberg que afunda o Estado.
Frequently Asked Questions
Por que a transferência de TH Joias para a PF foi autorizada agora?
A transferência foi autorizada após a prisão de Rodrigo Barcellar, presidente da Alerj, que gerou novas provas ligando o legislativo estadual ao Comando Vermelho. A Justiça entendeu que TH Joias, como ex-elo político da facção, pode ter informações cruciais sobre essas conexões, tornando seu interrogatório urgente e prioritário.
Quais são os principais crimes atribuídos a TH Joias?
Ele foi indiciado por 10 crimes, incluindo organização criminosa, tráfico interestadual de armas e drogas, corrupção ativa, lavagem de dinheiro, contrabando, exploração clandestina de telecomunicações e obstrução à justiça. A PF comprovou que ele movimentava milhões em dinheiro sujo e financiava a compra de drones usados em ataques a policiais.
Qual o papel de 'Índio do Lixão' na operação?
Gabriel Dias de Oliveira, o 'Índio do Lixão', era o principal intermediário entre TH Joias e o Comando Vermelho. Ele garantia proteção à facção em Duque de Caxias e articulava a entrada de líderes criminosos na política. Juntos, planejavam lançá-lo como candidato a vereador — um passo para legitimar o poder do crime por meio das urnas.
Como os drones entraram nesse esquema?
O ex-assessor 'Dudu' negociava a compra e venda de drones com facções criminosas. Esses equipamentos foram usados para lançar armas, comunicar entre presídios e atacar policiais em operações. A PF encontrou registros de compras feitas com dinheiro do tráfico, e até vídeos de testes em comunidades da Zona Oeste do Rio.
A esposa de TH Joias também está envolvida?
Sim. Fernanda Ferreira Castro, esposa do ex-deputado, foi nomeada para um cargo na Alerj sem função clara, mas com salário e benefícios. Investigadores suspeitam que o cargo foi uma forma de lavar dinheiro e garantir acesso a informações privilegiadas. Ela ainda não foi indiciada, mas está sob escuta e análise de movimentações financeiras.
O que isso significa para a política no Rio de Janeiro?
Isso revela que o crime organizado não está apenas nas favelas — está dentro das câmaras e gabinetes. A Operação Zargun mostrou que políticos usam o poder público para proteger facções, e que facções usam a política para se legitimar. Sem reformas profundas, novos TH Joias vão surgir. O povo já não acredita mais em discursos. Quer punição, e quer transparência.